quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Ética Docente


            A prática docente tem grande responsabilidade para a construção e desenvolvimento de uma sociedade. As dimensões éticas são consideradas muito importantes no nosso sistema educativo e estão presentes em vários documentos legislativos, quer no que diz respeito à formação dos alunos, quer no que se refere à formação dos professores, sendo consideradas componentes relevantes para o exercício profissional. Assim, uma atividade profissional pautada na ética faz-se necessária para que os professores, dedicados, competentes e comprometidos em auxiliar seus alunos a desenvolverem seu conhecimento, possam proporcionar uma educação de qualidade. A consciencialização das normas e da ética da profissão pode contribuir para a satisfação profissional dos professores e potencializar o seu prestígio e autoestima, aumentando também o respeito da sociedade para com estes profissionais.
        Os docentes, reconhecendo o alcance das responsabilidades inerentes ao processo educativo e a responsabilidade de atingir e manter os mais altos níveis de conduta ética e profissional, em relação aos alunos, aos colegas, aos pais, devem refletir, inicialmente, sobre o que prevê a Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional. A reflexão sobre as condutas humanas deve fazer parte dos objetivos da escola comprometida com a formação da cidadania. Em toda a educação a ética está implicada, porque é uma atividade interativa entre os seres humanos. Porém, um dos problemas enfrentados na profissão é a falta de código de ética específico para os professores.
           Os educadores veem este código como finalidade para a regulação ética da profissão, a preservação dos profissionais e a publicação dos seus deveres e direitos. Neste sentido, a falta dele causa certo sentimento de alienação. Este código de ética docente também seria um instrumento para que os valores e princípios relativos às crianças sejam respeitados. Assim, seria útil no nível da relação dos professores com os alunos, da relação dos professores com a sociedade e da relação com os seus pares. O código poderia ter um potencial formativo por proporcionar uma reflexão centrada nos valores e os princípios da educação. 
       Analisando a prática docente e a relação dela com a sociedade, podemos verificar alguns pressupostos básicos para que professor exercite a ética no seu ambiente de trabalho. Atitudes simples no dia a dia do professor são demonstrações de ética profissional e, consequentemente, são refletidas nas atitudes dos alunos. Algumas considerações sobre a prática docente podem ser essenciais para a construção de um perfil ético:
a)    O professor deve ter ciência de que seu trabalho atinge o meio social e que, portanto, qualquer exemplo, comentário ou ideologia serão levados em conta por seus alunos e por aqueles com que convive.
b)    Para o exercício da ética é imprescindível ser honesto consigo e com a sociedade. Acreditar na profissão é imprescindível. Utilizar a educação para apenas satisfação de interesses próprios fere a ética.
c)    É necessário grande esforço e doação para promover a democracia e os direitos humanos através da educação. Em nome da ética e em consideração à sociedade, o professor precisa estar em constante atualização, ávido por novas experiências e nunca achar-se detentor da sabedoria.
d)    Combater todas as formas de preconceito e de discriminação na educação, também é dever da educação e, por consequência, dos docentes.
e)    O docente tem de respeitar os direitos de todas as crianças, em particular dos seus alunos, ajudando-os a desenvolver um conjunto de valores para que possam se inserir na sociedade.
f)     O bom relacionamento na escola também faz parte da aprendizagem, mesmo que ele não seja componente curricular. E o bom relacionamento vale pra todas as instâncias, da equipe diretiva aos funcionários da higienização.
        Tantos outros deveres e direitos podem ser considerados inerentes a prática docente. Porém, o mais importante é que (com ou sem código) a ética se estabeleça na educação como um dos fatores mais significativos para formação dos alunos. A ética está além dos conteúdos, está a serviço de uma educação mais justa e mais humana. Não haverá, de fato, uma sociedade democrática se a ética não passar a ser respeitada e seu papel para o desenvolvimento humano não for levado em consideração.
       Desta forma, vemos a importância da ética e da concepção educadores morais nos currículos de formação de professores. É necessário que o professor tenha consciência da responsabilidade de sua atuação e desenvolvimento ético dos seus alunos. Mais do que isso, é importante que os governantes saibam do valor desta atuação e preocupem-se mais com esta profissão, pois o futuro da nação está nas mãos da educação.
        Assim como as crianças e jovens possuem o Estatuto da Criança e do Adolescente para defendê-los, também os professores, como todas as profissões, deveriam ter um código de ética, não para ser usado como escudo moral, mas para ser parâmetro ético de conduta na relação com alunos, escola, comunidade, pais e para assegurar-lhes direitos. Os professores são, cada vez mais, reféns da negligência dos pais, da sociedade e dos governos e refletir sobre a ética na educação é hoje um dos fatores mais urgentes.
        Devemos nos esforçar para construir uma educação que seja pautada em valores éticos e morais, esteja apoiada em princípios de justiça e na busca pela felicidade. Neste sentido, a construção destes valores deve ser significativa para todos os envolvidos. A ética deve ser ponto central da ação docente para que ele possa promover o crescimento de seu aluno, apontando o caminho da justiça e da cidadania.
        Sabemos, no entanto, que a discussão sobre ética docente deve ser muito maior e que só a reflexão nos mostrará o melhor caminho a seguir na busca deste objetivo. Vale lembramos que a ética não é algo acabado, não é finita, pois está em permanente construção e deve ser permanentemente revisada e complementada a fim de manter-se como suporte ao desenvolvimento humano.

2 comentários:

  1. Beleza de artigo! Quando fui coordenador pedagógico de uma escola, sugeri, aos professores, elaborarmos um código de ética para nosso fazer pedagógico. Não só aceitaram, como se entusiasmaram. Não adiantou muito; esquecemos tudo: seguimos com nossas práticas autoritários porque, ao final, é o que a sociedade quer para a escola. Fomos sufocados pela aldeia que educa, verdadeiramente, as crianças e os adolescentes.

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  2. Ética é, teoricamente, como o inglês: há tempos não é mais segunda língua. Ninguém pergunta em entrevistas de emprego se você fala. Está implícito. Na prática, ética não funciona. Ou seja, não está arraigado no ser, não é internalizado. E quando precisa de manual para se aprender, aí se perde. Como todo manual: há os que seguem, outros simplesmente ignoram. Porque falamos aqui de seres humanos - segundo meu sogro, "um projeto que não deu certo"... Entendo o nobre ideal do Prof. Gandin, mas se não há ética na aldeia, como suplantá-la? Impossível! é batalha injusta. Não quero aqui julgar este ou aquele gentílico como responsável por este desastre que é a formação de caráter do povo brasileiro, mas uma coisa é certa: em nosso "cadinho de raças" favoreceu grandemente a criação da Lei de Gerson, que suplanta qualquer tentativa de colocar a ética como prioridade.

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